Deveríamos falar mais sobre a morte
Falar sobre morte não é algo comum em nossa sociedade, geralmente nem tocamos no assunto, afinal para que falar algo que está ligada a tristeza? Quando alguém querido morre, ficamos extremamente impactados e nos perguntando, o porquê disso acontecer? Mas no final, acabamos não querendo mais falar sobre o assunto. Melhor não lidar com o fim da ausência. Mas será que realmente não falar sobre o assunto é melhor?
Não falar sobre a morte em nada nos ajuda, pois não diminui e nem anula a dor da perda de alguém querido que se foi, evitar o assunto é talvez tentar negar o inevitável, é negar a finitude. Talvez se pensássemos mais sobre o tema, nos daríamos conta que esta vida é passageira, e que aqui temos que viver a cada minuto da melhor maneira possível. Que as pessoas que amamos não vão estar aqui conosco para sempre, assim como nós também não vamos estar.
Quando olhamos para esta perspectiva da morte, nos damos conta de coisas inacabadas que precisam terminar, das conversas que nunca foram iniciadas que precisam iniciar, de perdões que precisam ser pedidos e serem aceitos, de prazeres que podemos nos permitir, dos sonhos que ainda podemos realizar e da aproximação de quem realmente vale a pena. E todos os dias devemos fazer a seguinte pergunta: Se eu morrer amanhã, já fiz o que eu gostaria de fazer hoje?
A resposta dessa pergunta reorienta toda a nossa vida, faz com que possamos dar o valor certo as coisas que para nós é a certa e por isso ganhamos a oportunidade de uma vida digna e coerente com o que nos faz feliz. Além disso, podemos ficar um pouco mais em paz quando alguém querido parte, porque tudo foi vivido, falado, sentido e o que fica são as lembranças e o aprendizado que continuam vivos em quem fica.
Geralmente quem fala sobre a morte, é quem já teve uma experiência de doença, ou quem já perdeu alguém muito próximo, mas acredito que de todas as formas quem já vivenciou ou não essa experiência, ao final todos nós vamos passar por ela, mais cedo ou mais tarde, e quanto mais falarmos e termos consciência que ela faz parte da nossa existência, maior vai ser a nossa consciência da raridade da vida e direcioná-la para uma existência que vale a pena ser vivida.
Talice Fernanda Ghion
PSICÓLOGA
CRP 07/25049